quarta-feira, 13 de março de 2013

Pensadores entre dois impérios

Posted by Hijikata Toshizou on 17:12 with No comments


O período helenístico teve início em meados do século IV a.C., com a morte de Felipe II da Macedônia e a ascensão de seu filho, Alexandre Magno, estendendo-se até o final do século I a.C., quando a dominação romana se impôs. Ao assumir o poder em 334 a.C., Alexandre iniciou um período de conquistas que alargaria o domínio do mundo macedônico sobre a Grécia, a Índia, a Pérsia, a Síria, o Egito e a Babilônia, entre outros. O seu projeto era estabelecer um grande império monárquico e hegemônico, que acabasse com a independência e a liberdade das cidades-estados gregas e acoplasse diversas cidades, países e povos. Embora o projeto de construir um império sólido não tenha obtido sucesso, devido a sua morte prematura em 323 a.C., as conquistas de Alexandre inauguraram uma nova época histórica e promoveram profundas mudanças políticas, filosóficas e culturais.
A partir desse período, a Grécia teve contato com a imensidade do mundo, o que fez com que a vida e os costumes dos gregos se transformassem de forma radical. Iniciaram-se trocas comerciais e culturais intensas entre o mundo grego e países da África e da Ásia, como a China e a Índia. As tradições, a cultura e as religiões começaram a se misturar, provocando encontros culturais sem precedentes até então no mundo ocidental. Novas cidades se projetaram como centros culturais: Rodes, Pérgamo e Alexandria. Atenas passou a dividir com elas as atenções dos intelectuais, principalmente com Alexandria, que viria ter a maior biblioteca do mundo antigo. Com o desaparecimento da pólis, a idéia do cidadão participativo da vida pública também desapareceu, e o indivíduo passou a ser súdito do império. As decisões sobre a vida política e pública não eram mais tomadas pelos cidadãos na esfera da pólis, mas sim pelo monarca e por seus administradores. O cidadão, que antes tinha interesse pela política, passou até a ser avesso a ela.
Toda a Filosofia do século anterior estava ligada a idéia do cidadão livre, participativo da vida pública, e de uma vida ética ligada à cidade-estado. As velhas escolas filosóficas de Platão, Aristóteles e mesmo dos socráticos menores entraram em declínio. A vida do Império tornou os laços entre o cidadão e o Estado frágeis e distantes, e a cidade deixou de ser o espaço político. Não existia mais o cidadão da pólis, e sim o cidadão do mundo. Com isso, o indivíduo começou a isolar-se dentro de si. A era de Alexandre levou o homem grego a descobrir seu mundo interior, já que o mundo externo estava em profundo declínio e degradação. Surgiram novas escolas filosóficas, sendo que as principais desse período foram: o estoicismo, o epicurismo, o ceticismo e o cinismo. Com elas, novos conteúdos surgiram no pensamento grego.
Pode-se dizer que três traços são comuns nas escolas filosóficas desse período:
1)       A Filosofia começa a se centrar mais no campo da ética individual, abandonando a velha preocupação de Platão e Aristóteles em relacionar ética, política e cidadania. Embora os filósofos helenistas não tenham deixado completamente as questões políticas – pois muitos desempenharam papéis importantes aconselhando reis e políticos de cidades gregas, os estóicos e epicuristas tiveram participação em reformas políticas e sociais de cidades – o foco principal da reflexão passou a ser o indivíduo em sua singularidade. Essas escolas estavam preocupadas em ensinar o homem a viver e a morrer, mostrando o caminho de uma vida de virtudes e, conseqüentemente, feliz, para que atingisse a verdadeira paz interior e tivesse uma morte sábia. A felicidade e a paz interior seriam alcançadas por um processo de anulação das paixões e dos desejos mundanos, pela ausência da dor, pela renúncia e indiferença as convenções humanas. Dentro desse modelo, o sábio deveria se retirar das relações com os outros homens para viver recluso no campo, entre aqueles que compartilham do mesmo ideal. O filosofo, para essas escolas, não seria aquele que constrói sistemas de pensamento, como Platão e Aristóteles que teriam criado sistemas metafísicos inchados e desnecessários, afastando-se do verdadeiro espírito de Sócrates. Elas anunciavam querer recuperar o verdadeiro espírito socrático: a Filosofia como modo de vida e o filosofo como aquele que alcançou a serenidade interna e sabe viver e morrer com serenidade.
2)       A explicação de Alexandre ao mundo oriental permitiu uma intensa troca cultural entre Ocidente e Oriente, dando um novo impulso as pesquisas filosófico-científicas. As descobertas de uma nova realidade geográfica e biológica proporcionaram novas perspectivas. O filosofo Pirro, por exemplo, acompanhou Alexandre até a expedição a Índia e voltou de lá profundamente impressionado com a cultura do país. O pensamento oriental marcou de forma profunda o mundo helênico, influenciando as escolas filosóficas. Nessas escolas floresceram novamente conteúdos de estudos que foram caros aos pré-socráticos e a Aristóteles, como a Física, a Biologia e a Astronomia.
3)       A cultura grega clássica considerava os gregos ocidentais o único povo capaz de liberdade, e os não-gregos eram considerados bárbaros e incapazes por natureza. O preconceito racista dos gregos sofreu transformações com as conquistas de Alexandre. O jovem conquistador procurou integrar as culturas ocidentais e orientais, igualando os gregos e os não-gregos. As escolas filosóficas desse período trataram com mais respeito os escravos e os não-gregos, admitindo-os, inclusive, como alunos na escola de Epicuro, por exemplo. O estoicismo teve um grande filosofo escravo, Epíteto. As mulheres também tiveram mais reconhecimento com essa troca cultural e passaram a ter alguns direitos reconhecidos, sendo aceitas por Epicuro entre os seus alunos.

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